Dos 7 aos 14 anos, O “SENTIR” está em foco. Os sentimentos estão se consolidando. A criança se interessa mais pelo seu entorno, surgindo interesse genuíno por experimentar, que deve ser alimentado pelo professor, estimulando assim o entusiasmo pelo aprendizado. A proposta curricular reconhece no professor a autoridade que a criança segue e pela qual é conduzido, idealmente, do primeiro ao oitavo ano do ensino fundamental. Desta maneira, busca-se estabelecer entre o professor e a criança um vínculo que o permita entender melhor a individualidade que se apresenta, de modo a poder acompanhar, em um espaço de confiança, cada um dos alunos em seus processos de transformações. São de suprema importância, nessa fase, as atividades artísticas. É também a fase de criar hábitos e quando, então, são criadas as bases para o comportamento ético na vida adulta: o sentimento de fraternidade para com os semelhantes e de reverência em relação aos mistérios da vida e da natureza. A virtude básica que a criança precisa ver manifestada ao seu redor, nessa fase, é a beleza.

“O mundo é belo!”


O Currículo do Ensino Fundamental

Compreendendo que os fundamentos da educação Waldorf se encontram na Antroposofia, pode-se entender melhor o currículo e todos os temas desenvolvidos ao longo do ensino, conhecendo assim, como as necessidades de cada fase são equilibradas. O currículo nas escolas Waldorf é fruto deste conhecimento das fases de desenvolvimento infantil e do estudo e observação das crianças. O professor deve ser capaz de criar a sua aula através do profundo conhecimento das fases da infância e do que aquelas crianças, naquela idade, estão vivenciando física, anímica e espiritualmente. Deste modo, se ocupar não somente da simples transmissão de informações e conhecimentos, mas também da tradução do que leu na própria criança e daí criar a forma como vai dar a aula e o que deverá ser ensinado.

A essência do segundo setênio é o “mundo é belo”. O adulto deve ter este olhar e cuidado para proporcionar um ambiente anímico de encantamento com a beleza do mundo, da natureza e do ser humano. Para isso deve, como adulto, trabalhar de forma consciente o seu próprio olhar para o mundo, evitando uma postura excessivamente crítica e catastrófica frente aos caminhos que a humanidade está tomando e ao caos ambiental e social em que vivemos. Nos dias de hoje, este é um grande desafio. Mas é também um privilégio quando podemos sentir, verdadeiramente, junto com as crianças, este encantamento e, ao olhar para um céu estrelado, sentir a alma toda preenchida. É importante ressaltar que, na pedagogia Waldorf, o professor em todas as aulas tem presente elementos próprios do pensar, do sentir e da vontade (querer). Ciência, religião (espiritualidade) e arte seguem de mãos dadas ao longo de todo o ensino, sempre auxiliados por atividades manuais e movimento corporal. A liberdade do professor, na aplicação desses elementos à realidade da sua classe, é um ponto chave do processo pedagógico.

Para uma boa aprendizagem, é imprescindível criar um espaço de confiança, onde cada criança se sinta feliz e amada em sua caminhada. Podemos identificar três ciclos no ensino durante o segundo setênio: do primeiro ao terceiro ano, o Ciclo Religioso, em que a criança aprende ainda por imitação, os hábitos são criados e a autoridade do professor é cultivada; do quarto ao sexto ano, o Ciclo Artístico; e do sétimo ao nono ano, o Ciclo Científico.

“Esta educação visa, única e exclusivamente, a desenvolver as medidas para a educação e para o ensino com base no próprio ser humano, de modo que este consiga chegar ao seu pleno desenvolvimento, de acordo com o corpo, a alma e o espírito; por outro lado, no entanto, visa a introduzir de tal modo o ser humano na vida que, quando criança, ele se desenvolva segundo o corpo, a alma e o espírito, segundo o aspecto religioso, o aspecto ético, o aspecto artístico, a vida cognitiva, sendo capaz de desenvolver as virtudes mediante as quais consiga, da melhor maneira, ser útil e contribuir para o desenvolvimento de seu próximo. É nessa direção que, no fundo, todo ideal educativo deve estar voltado.”

Rudolf Steiner

O primeiro ano escolar representa a transição do Jardim de Infância para o Fundamental. As crianças são, amorosamente, conduzidas para o mundo adulto e do aprendizado. No primeiro dia de aula, num ritual singelo e caloroso, cada uma das crianças atravessa um portal de flores, para ser acolhida pelo professor de classe e encontrar seus novos colegas. Diariamente, a partir de então, o professor começa o dia cumprimentando as crianças, uma a uma, e olhando em seus olhos. Este contato social, permite que o professor e os alunos se conectem, propiciando que cada criança seja vista e honrada como um indivíduo único. O professor se esforçará por deixar o potencial único de cada criança florescer (emergir). A criança pequena, do primeiro setênio, é mestre em imitação, mas com a chegada dos anos da escola fundamental a imaginação se torna o meio pelo qual a criança aprende. O professor do ensino fundamental Waldorf apresenta cada lição por meio de uma história que apela para a imaginação dos alunos. Estas histórias não são lidas, mas narradas pelo professor de forma viva. As épocas se alternam entre desenho de formas, letras e números. Respeitando o ritmo de cada um a alfabetização tem início. As crianças aprendem a ler a partir da escrita. Para cada letra, o professor cria uma imagem, de onde surge a forma da letra, assim a criança aprende o alfabeto, seguindo o caminho pictórico que a humanidade percorreu em milhares de anos. Na matemática, as quatro operações são apresentadas. Os movimentos corporais são imprescindíveis no desenvolvimento das habilidades matemáticas. Marchar e bater palmas, pular cordas, enquanto contam as tabuadas em ritmo, é um recurso amplamente explorado em sala de aula. Em todas as aulas, a arte está presente e as crianças desenham e escrevem com giz de cera de abelha, criando belos cadernos, que serão seus livros didáticos. Todo o ensino tem por objetivo desenvolvimento gradual de capacidades e habilidades das crianças. O movimento, a geografia corporal, o equilíbrio e o tato são constantemente requisitados. O professor também se dedica à criação de hábitos em sala de aula e a fazer com que esta pequena comunidade ganhe forma e características próprias.
No segundo ano, continua a aprendizagem da escrita e da leitura. Depois de ter aprendido todas as letras maiúsculas, as crianças são introduzidas às letras minúsculas. Também são convidadas a escrever, por si só, pequenas palavras com uma ou duas sílabas. Usam lápis de cor de grafite grosso, que traz uma qualidade tátil diferente para o trabalho da escrita no papel. O desenho de formas, acompanhando o trabalho com a escrita, propõe as laçadas e formas espelhadas no plano horizontal e vertical. Em matemática, é introduzida a noção de valor posicional dos números, por meio de histórias. Exercitam as quatro operações e cálculos mentais, tabuadas, sempre associados ao movimento corporal, ao pular corda, bater palmas, jogar bolas e saquinhos de areia. O conteúdo anímico deste ano são as lendas de santos e as fábulas, em que a criança vivencia, através de imagens vivas, a polaridade entre as virtudes e vicissitudes do ser humano. O desafio é fazer a criança de 8 anos sentir-se confortável ao lidar com estas dualidades. Nas épocas da natureza, um primeiro gérmen das ciências naturais, a partir de histórias e imagens, como A Gotinha d’água e O Senhor do Tempo, a criança é convidada a olhar para a natureza e a vida com veneração, encantamento e leveza.
Deixando o paraíso da infância, no terceiro ano, as crianças despertam para as incertezas da vida em um mundo em expansão. Aos nove anos, as crianças passam pelo Rubicão, ou seja, um momento de crise em que a criança passa a perceber mais o mundo sensorial e a distância entre EU e o MUNDO. Uma crise de autoconsciência, mais um passo em direção à individualização. Para acompanhar este momento, o conteúdo anímico das histórias do antigo testamento, com imagens que falam de figuras arquetípicas que deixam o paraíso para apoderar-se do mundo cotidiano de modo frutífero. Auxiliam este processo as atividades de horta e a construção de casas. Também a gramática entra no plano de estudos. As crianças começam a ler livros impressos, assim como seus livros de classe. Na aritmética, aprendem as contas armadas; na música, são convidados a conhecer outros instrumentos, por meio da vivência de cordas, na qual aprendem o violino. Além de continuar com a flauta soprano e o canto, introduzindo o cânone.
Nesta fase, a criança sente necessidade de alimentar a nova capacidade de raciocínio. O professor deve alimentar a intelectualidade, que está surgindo, por meio de um olhar questionador e curioso para a natureza e suas leis. O caminho que estamos percorrendo é para ajudar a criança, mais tarde, na adolescência, a conquistar uma autonomia de pensamento e capacidade de julgamento, sem precisar se subjugar a padrões impostos de fora pela sociedade, por dogmas ou por tradições. No quarto ano, o estudo do homem e a zoologia inauguram as ciências naturais no currículo. A geografia, partindo do ponto em que a criança se encontra, responde ao interesse em conhecer o mundo que começa a se manifestar. Desenhos de mapas, a planta baixa da escola, passeios pelo entorno e um primeiro contato com os pontos cardeais e a rosa dos ventos fazem parte desta matéria. O trabalho de artes, com aquarela molhada começa a ser feito com o papel mais seco, dirigindo-se à conquista de linhas e formas. Na matemática, as frações são o foco principal, além do exercício de divisão com números de mais de dois dígitos e o cálculo mental.
No quinto ano, a criança de 11 anos encontra-se em uma fase muito especial de harmonia e equilíbrio. É chamado o ano dourado da infância. O conteúdo anímico parte das antigas civilizações orientais, seguindo o caminho de evolução da humanidade. Ainda é um gérmen do que virá a ser a história, após os 12 anos, e utiliza ainda as imagens pictóricas e mitológicas destas civilizações. Uma viagem através da história, Índia, Pérsia, Mesopotâmia e Egito, levam até a Grécia antiga, e às conquistas de Alexandre Magno. Recitação de poemas, músicas, contemplação de obras de arte, complementam a narração do professor. Na gramática, aprender a voz passiva e ativa, além de continuar no estudo das classes gramaticais e a produção de textos. Em educação física, aprendem os jogos olímpicos clássicos, com lançamento de disco e de dardo, maratona, luta grega, salto em extensão e participam de jogos gregos, juntamente com a escolas Waldorf da região Sul. Também passam pela vivência da arqueria, em que, após exercitar com o arco e flecha, são convidados a atirar em um alvo com um dragão representado, simbolizando os medos e dificuldades da vida que temos de enfrentar. Em matemática, são introduzidas as frações, números decimais e sistema métrico. Em botânica estudam as plantas e fungos, em sua escala evolutiva, partindo dos cogumelos e líquens, até os musgos, samambaias, coníferas e as plantas completas com flores, frutos e sementes, fazendo uma relação destas com o anímico no ser humano.
O grande interesse que os alunos mostram no sexto ano pela veracidade das estruturas encontra uma correlação satisfatória por meio da prática do desenho geométrico. Depois de ter utilizado a régua e o compasso de precisão , os estudantes trabalham a sombra e a cor nos desenhos, que adquirem uma estética pessoal. No estudo da física, realizam experimentos de óptica e acústica, nos quais seu assombro e entusiasmo pelas novas descobertas se refletem belamente nas suas criações artísticas. As aulas de Geografia incluem o estudo da América do Norte e do Sul, as configurações da Terra e seus contrastes. A história se centra na fundação de Roma, o desenvolvimento do império Romano até a chegada da idade Média, nos exercícios de escrita criativa se desenvolvem dentro da vida no castelo, na época medieval ou no monastério, a vida de Mahoma, o Islam e o avanço das Cruzadas completam o estudo da história no sexto ano.
No sétimo ano, o Renascimento é o tema central da época de história, mas o espírito desta época cultural permeia o plano de estudos durante o ano todo. Os alunos reproduzem exercícios, que realizaram os grandes mestres da arte, para formular as leis da perspectiva, seis séculos atrás. Examina-se Leonardo da Vinci e a forma pela qual se interessou pelas invenções e pelos mistérios do corpo humano. A realização exata de desenhos geométricos, a pintura, a música, a escultura e a criação de brinquedos mecânicos de madeira refletem o espirito do Renascimento. Tudo isto se complementa no estudo da Física com as roldanas e alavancas. A geografia da Europa, da África, da Ásia e da América do Sul seguem as rotas dos grandes exploradores. A Química é introduzida por meio de experimentos de combustão, nos quais os alunos exercitam a observação dedicada e objetiva para conseguir um registro exato dos diferentes fenômenos que percebem, e assim podem tirar conclusões para chegar aos conceitos que definem as leis.
O oitavo ano marca a chegada dos alunos a outra etapa biográfica com a chegada dos 14 anos. Assim, o caminho apontado no sétimo, que trouxe as ciências e um olhar para o mundo concreto em busca de causa e de efeito, será aprofundado. A Química vai trazer os açúcares, amidos e gorduras; a física terá eletricidade e hidromecânica. Nas ciências humanas, a história deve chegar até a contemporaneidade, para fechar um olhar panorâmico sobre atuação do homem no tempo e a Geografia deve mostrar a Ásia, e a Oceania. A antropologia deve aprofundar o estudo dos ossos, músculos e nervos. Este ano terá ainda como desafio a montagem de uma peça teatral, na qual os alunos vão atuar na confecção dos figurinos (trabalhos manuais), estudo do texto (português), construção do cenário (artes aplicadas), desenvolvimento das músicas. Esta atividade deve transcorrer no primeiro semestre e a apresentação acontecerá no começo do segundo.
Em construção.
Em construção.